SERRA DA MANTIQUEIRA.
05-07-12-1994
A serra da Mantiqueira é uma cadeia montanhosa que se estende por três estados do Brasil: São Paulo, Minas Gerais e Rio de Janeiro.
Foto: Wikipedia
A subida da serra, começando em Piquete (SP) até o topo da Mantiqueira — onde está assentado um posto policial, com um mirante bordeado de hortênsias — é um serpenteio contínuo, com o vale do rio Paraíba lá embaixo, cada vez mais distante. É impressionante, bonito. Logo começa a descida em direção de Itajubá (MG).
Desta vez a viagem foi de noite. As cidades paulistas que margeiam a estrada de rodagem — Cruzeiro, Cachoeira Paulista, Lorena — e tantas outras — formam um colar luminoso.
A viagem numa kombi frágil, dirigida pelo motorista Adalberto e na companhia da Regina Mara, colega da FENORTE. Fomos em busca de livros e revistas, de duplicatas.
Antes havíamos passado por Campo Grande e Santa Cruz, na zona oeste do Rio de Janeiro, lugares que eu não visitava desde os tempos de juventude. Uma região vasta, congestionada no trânsito, com uma mesmice medíocre e monótona de blocos residenciais e de casas modestas.
Uma baixada triste, extensa, densa, interminável, cortada pela estrada de ferro. Já não saem mais os trens para Mangaratiba, como nos idos de 60. Agora os trens só vão na direção da Central do Brasil, da estação de Dom Pedro II, com operários e desempregados.
A viagem pelas praias de Itaguaí — Vila Geny, Itacuruçá, Coroa Grande — era muito simpática. Praias chatas, com lodo no fundo e margeadas com chapéus-de-sol. Nada de luxo. Uns bares rústicos para vender peixe frito, quando as pessoas não se bastavam com suas galinhas assadas e farofa.
O que mais tocou-me, de verdade, no trajeto, foi passar por Seropédica, hoje uma localidade com um comércio ativo e uma passarela com um comércio ativo e outra passarela (que ninguém usa para atravessar a pista).
A visão estática dos pavilhões da Universidade Rural e de seus imensos prados trouxe-me saudades e alguma angústia, lembranças dos tempos de meu internado, ali, numa escola agrícola. Creio que eu não era feliz naquele tempo, embora gostasse do lugar. Foram quase três anos de recolhimento e insegurança, inadaptado ao estilo de vida dos demais companheiros e às regras de convivência impostas pelo educandário. Isso foi há mais de quarenta anos.
A praça central de Itajubá agora foi transformada em um calçadão só, cercado pelo Clube Itajubaense, pelo Grande Hotel (onde ficamos hospedados), e pelos primeiros grandes edifícios que fazem sombra para os vários bares ao ar livre, com suas cadeiras de armar. O movimento é muito intenso. Muitos jovens, alguns universitários, quase sempre homens, futuros engenheiros, vindos de toda parte. E nós.
No centro, com soi ser, o coreto.
Verdes e ondulantes são os caminhos do sul de Minas Gerais. Vales profundos e plantações que sobem os morros: bananeiras, batatas, figueiras.
Aproveitamos uma parte da tarde (06/12/1994) para visitar a cidade de Maria da Fé.
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Minha sobrinha Maria das Graças havia andado por lá e insistia para que eu a visitasse.
Caminho estreito, asfalto ralo, fazendas, plantações e gado leiteiro.
A cidade ainda conserva sua estação ferroviária, mas sem os trilhos e os trens. Cidade enladeirada, com uma igreja grande no topo da escadaria. Bonito!
Alguns casarões do fim do século, sobrados vetustos dos anos 20 e 30, e as modernidades das novas residências encimadas com antenas parabólicas, como dita a moda.
O regresso a Nova Iguaçu (onde eu morava naqueles tempos), no dia seguinte, foi lento e pitoresco. Visitamos, primeiro, a cidade de Delfim Moreira, que se estica pelo vale, com graciosas e gratas construções, com suas fábricas de doce, suas figueiras e sua gente tranquila.
Cruzamos também Piquete e Cruzeiro, cidades mais descaracterizadas pelo progresso sem opulência — o Vale do Paraíba ainda tem os traços de sua decadência, principalmente nas proximidades do Rio de Janeiro —,
e ainda houve tempo para ver uma última fonte em Queluz.
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